segunda-feira, 29 de julho de 2013

Os sons do silêncio - 3ª parte

Sentado ao piano, podia ouvir uma conversa entre meus pais na sala ao lado. Não estava preocupado com isso, mas pude ouvir minha mãe dizendo que achava que alguma coisa estava acontecendo comigo. Meu pai disse que a 1 semana que não saía do quarto. Como assim, 1 semana?! Ontem mesmo eu estava me apresentando para alunos e professores da Academia!
Nesse momento me dei conta de que, realmente, eu não saía de meu quarto a 1 semana. Foi quando resolvi ir ao banheiro. Não me reconheci quando fiquei em frente ao espelho. Meus cabelos estavam maiores e bagunçados, minha barba quase chegava ao pescoço e as olheiras denunciavam as noites sem dormir. Pus as mãos sobre a pia e só consegui pensar em minha tão sonhada sinfonia. "Prometi que não saía até compôr a mais perfeita das sinfonias e irei até o fim!" - Pensei.
Quando estava cruzando o corredor para chegar ao meu quarto, minha mãe veio em minha direção com os olhos marejados e os braços abertos para me abraçar. "Tenho muito o que fazer. Não posso perder tempo com abraços. Com licença!" Ela se ajoelhou e começou a chorar. "Meu filho, por favor, você está exagerando com essa história de composição!" - Disse. Fechei a porta do quarto e me sentei, novamente, ao piano. Olhei a partitura em branco e decidi tocar a "Ópera Arepó", de André Abujamra e conduzida por Renato Lemos, para ver se surgia alguma inspiração.
Toquei essa ópera por várias horas, mas nada se criava em minha mente. Aumentei a frequência das notas, mas nada. Estava dando meu sangue e suor por isso, mas nada acontecia. Qualquer rastro de inspiração passava longe de mim. Quando estava perto de conseguir algo, ouço baterem na porta. Eram meus pais, acompanhados de alguns homens de aparência estranha, com braços fortes e roupas brancas.
Meus pais diziam que eles estavam aqui para me levar para descansar um pouco. "Não quero, não preciso descansar! Preciso compôr!" - Gritei. Os homens então me agarraram, mas eu me debatia. Por fim, conseguiram me sedar. Minha visão estava embassada e a única coisa que pude ver, foram meus pais abraçados e minha mãe chorando. Senti meu corpo muito mole e antes que pudesse pensar em algo, apaguei por completo, sem compor a minha música.

(Foto retirada do Google Imagens)

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