segunda-feira, 22 de julho de 2013

Os sons do silêncio - 2ª parte

Fechei, então, meus olhos. Deixei que a música saísse por entre meus dedos e passasse pelo piano, chegando, finalmente, ao ouvidos dos que ali estavam. Não sabia qual eram as reações do público. Estava me entregando a essa apresentação. Sentia que meus cabelos tocavam constantemente o meu rosto, devido à força que eu estava empregando ao piano. Cada tecla tocada me fazia querer mais de mim, fortalecia a minha vontade de escrever a sinfonia perfeita. Tudo isso ao som da obra de Chiquinha Gonzaga.
Quando toquei a última nota, abri os olhos e pude, enfim, ver o público. Pareciam espantados. Não aplaudiram, não emitiram som algum. "Fracassei." - foi meu primeiro pensamento. Ao levantar para deixar o auditório,o som de uma pessoa aplaudindo, cortou todo o lugar. Pouco a poucos, as pessoas foram se levantando e me aplaudindo e pouco tempo depois, uma quase interminável salva de palmas entrou em mim como se fossem inúmeras agulhas. Agora o espantado era eu. Não tive reação, não sabia o que fazer até que um dos professores mandou que eu agradecesse. Educadamente me curvei, agradecendo os aplausos.
Ao sair do palco, vi que um grupo de 5 professores conversavam com a intenção de não serem ouvidos, o que me deixou bastante intrigado. Minha mãe me aguardava do lado de fora do auditório para que pudéssemos ir para casa. Durante todo o caminho, fiquei quieto pensado o que aqueles professores estariam falando. Antes mesmo de descer do carro, pude notar que algumas pessoas não tiravam os olhos de mim.
Corri para dentro de casa antes que essas pessoas pudessem dizer alguma coisa. Como não queria perder tempo, tomei um copo d'água e fui me sentar ao piano para tentar escrever a minha tão sonhada sinfonia perfeita. As notas vinham em minha mente, mas não ficavam em harmonia quando tocadas. O tempo passava e a lixeira ia se enchendo com as partituras descartadas. Claves de sol, pausas, claves de fá, bemóis, sustenidos, vinham com tanta força que não conseguia pensar em outra coisa. Fui madrugada adentro tentando passar, sem o menor dos erros, as notas que vinham a minha mente para o piano.
Quando me dei conta, o sol já estava alto e havia perdido o horário das aulas. Não importei. Não saio mais de casa, até que tenha composto a mais perfeita sinfonia que o mundo já ouviu! Ninguém irá me impedir! Ou não me chamo Rodolfo Marques Lopes.



(Fotografia retirada do Google Imagens)

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