terça-feira, 26 de junho de 2012

Lembranças - 12ª parte - FINAL

- Com a ajuda de um conhecido juiz, consegui expedir em tempo recorde o mandado de prisão contra Jacques Claude e também contra os seus comparsas. - Disse o policial, entrando com pressa em sua sala.
Ao escutarem o que o policial disse, Ícaro e Léo suspiraram de alívio. Faltava apenas, um importante depoimento.
- Mas que depoimento importante é esse? - Perguntou Ícaro?
- Calma, meu jovem, esse depoimento importante que falta é o desse rapaz ao seu lado. - Disse referindo-se a Léo. - Vocês prestaram queixa contra esse tal Jacques, mas não deram o depoimento detalhado sobre o que aconteceu.
- Então, o que estamos esperando para isso acontecer?! - Disse Léo, seguido de um pequeno riso.
Léo e o policial começaram a conversar. Léo contou tudo para o policial, desde o xingamento que o grupo de Jacques fizera contra ele, passando pelos ataques que sofrera e pela conversa que tiveram com Bartolomeu, até chegar no momento em que conheceram Marlene. O depoimento de Léo durou cerca de 2 horas. Por ser a acusação mais importante das denúncias feitas, Ícaro, Bartolomeu e Marlene tiveram que aguardar do lado de fora da sala do policial.
Ícaro já estava ficando impaciente do lado de fora quando a porta da sala do policial se abriu e Léo saiu de dentro dela, seguido pelo policial,
- E então, como foi? - Perguntou Ícaro, já sem unha de tanto nervosismo.
- Foi tudo muito tranquilo. - Disse Léo.
- Mas o que devemos fazer agora, moço? - Perguntou Bartolomeu.
- O que vocês devem fazer agora é ir para suas casas e aguardarem as minhas notícias. - Disse o policial. - Não será muito difícil prender a gangue de Jacques.
Assim, Ícaro e Léo, junto com Bartolomeu, levaram Marlen de volta para sua casa. Na porta da casa da mulher, eles não se esqueceram da promessa que fizeram.
- Marlene, enquanto você estava dando seu depoimento, eu sai da sala por uns instantes e fiz uma ligação para um grande amigo que trabalha numa dessas empresas que ajudam as pessoas a encontrar parentes que não veem a muito tempo. - Disse Ícaro. - Dei a ele o nome e as características de seus filhos e tenho uma notícia boa e uma ruim para te dar.
- Fale, homem, não fique fazendo muito rodeio. - Disse Marlene. - Diga primeiro a notícia ruim.
- A notícia ruim é que seus filhos não estão mais no Brasil. Eles foram adotados por uma família do Panamá. A boa notícia é que, apesar disso, eles nunca deixaram de procurar a senhora e estão vindo vê-la! - Falou Ícaro.
Marlene quase desamaiou de tanta emoção após escutar o que Ícaro tinha pra dizer. Após muitos abraços e pedidos de agradecimentos de todos, Léo e Ícaro foram embora para levar Bartolomeu para casa. No caminho, os três foram comentando tudo o que havia acontecido nas últimas semanas.
- Pois é, meus amigos, a justiça foi feita e mais uma vez o bem venceu o mau. - Disse Batolomeu.
- Isso mesmo, foi feita a justiça para o meu caso em poucas semanas. - Falou Léo.
- É verdade. Embora o seu caso tenha levado muito mais tempo, Bartolomeu, a justiça também foi feita! - Completou Ícaro.
- Queridos, eu fico por aqui. Minha casa não é tão longe e eu prefiro seguir daqui caminhando. - Disse Bartolomeu.
- Obrigado por nos ajudar! Nunca esqueceremos que, graças a você, conseguimos colocar o Jacques atrás das grades! - Disse Léo, dando um longo e apertado abraço em Bartolomeu.
Bartolomeu desceu do carro, deu um sorriso para o casal de amigos e seguiu seu caminho a pé. Léo e Ícaro nunca mais viriam a ter notícias dele.
Quando chegaram em seu apartamento, a única coisa que ambos queriam era tomar um bom banho e fazer um jantar delicioso. Enquanto Léo tomava banho, Ícaro preparava rapidimente um bife acebolado com fritas, prato simples mas que era o preferido do casal.
Após o jantar, eles deitaram na cama e começaram a pensar em como são sortudos por serem um casal tão feliz e tão unido. Não importa o que acontecesse, Léo e Ícaro sempre apoiariam um ao outro.
- Amor, obrigado! - Disse Léo.
- Porque você está me agradecendo? - Perguntou.
- Obrigado por ser meu companheiro, meu amigo, meu fiel escudeiro, obrigado por esse maravilhoso jantar. Obrigado por sempre me defender e obrigado por existir em minha vida.
Deram um beijo e dormiram, com a certeza de que a luta contra a homofobia e o preconceito estava apenas começando para eles.

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EPÍLOGO

Muitos anos haviam passado. Não eram mais os mesmos, os cabelos agora são brancos e a pele mostra os anos vividos. Leonardo e Ícaro já não trabalham, estão aposentados. Muita coisa mudou em todos esses anos que passarm, apenas uma coisa continua a mesma: o amor que um tem pelo outro.
Estavam deitados em sua cama, preparando-se para mais uma noite de sono. Já quase não conseguiam ficar de olhos abertos.
- Deixa eu te ver, amor.
- Ah...pára. Já não estou conseguindo ficar acordado.
- Olha pra mim, amor. Quero lembrar de você.
Foi então, que ele fechou os olhos e nunca mais acordou.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Lembranças - 11ª parte

Marlene entrou no carro de Ícaro e os 4 foram para a delegacia para prestar queixa contra Jacques. Enquanto não chegavam à delegacia, Marlene repassava a história com Bartolomeu para que não cometesse qualquer tipo de gafe.
Após alguns bons minutos no carro, finalmente chegaram à delegacia. Um par de policias, nada bem humorados, estava ao lado de fora como se estivessem vigiando a delegacia. Ao ver os policiais, Marlene começou a ficar nervosa.
- Eu não consigo! Esses homens vão começar a fazer um monte de perguntas que eu não vou saber responder e vão me prender por isso! - Disse.
- Marlene, mantenha a calma. - Falou Ícaro. - Eles vão perguntar somente o excencial e a senhora vai responder o que sabe, ou seja, a verdade.
- O Ícaro tem razão. Eles não predem uma pessoa sem provas, menos ainda por um simples nervosismo. Léo acalmou a mulher.
Após a demonstração de calma de Marlene, Léo, Ícaro e Bartolomeu a acompanharam até o interior da delegacia. No hall da delagacia, Ícaro avistou o policial que os interrogara e foi ao encontro dele.
- Com licença, boa tarde, o senhor se lembra da gente? - Disse Ícaro.
- Boa tarde. Lembro sim. Você não é o rapaz - Disse o policial apontando para Léo - que foi agredido por um grupo de homens?
- Sim, sou eu. - Disse Léo.
- Mas o que os traz de volta à delegacia?
- Nós finalmente temos provas que incriminam o Jacques Claude, mandante do ataque. - Disse Ícaro.
- Pois bem, tragam a testemunha para a minha sala. - Disse o polícial.
Léo e Ícaro conduziram Marlene e Bartolomeu para dentro da sala do policial para que seus depoimentos fosse recolhidos. A mulher estava um pouco nervosa mas nada comparado à quase desistencia
- Por favor senhora, sente-se e me diga seu nome completo. - Disse o policial.
- Marlene das Graças Silva.
- Qual a idade da senhora?
- Tenho 53 anos.
Léo, Bartolomeu e Ícaro observavam o depoimento de Marlene.
- Me conte tudo o que a senhora sabe sobre o ataque feito a esse senhora aqui presente.
- Bom, Seu policial, naquela noite eu estava voltando de uma entrevista de emprego para trabalhar como doméstica numa casa de família. Minha intenção era ir primeiro na casa de minha amiga buscar meus filhos, por isso fiz um caminho que eu não estava habituada a fazer. - Disse.
- Pode prosseguir com seu relato, senhora. - Falou o policial.
- Alguns poucos minutos antes de presenciar o ocorrido, eu estava muito feliz por ter conseguido um emprego depois de tantos anos. - Marlene começou a se emocionar. - Finalmente eu poderia dar a meus filhos a vida que tanto sonhei.
- Me permite dirigir a palavra a ela, senhor? - Perguntou Léo.
- Sim.
- Marlene, você está fugindo do assunto principal. Chegue logo à parte em que presenciou o ataque ao Bartolomeu. - Disse.
- Sim. Me lembro de ter dado mais alguns passos, foi quando eu ouvi alguns gritos de socorro. Eu fiquei muito assustada e comecei a andar mais rápido para que ninguém me visse. - Disse Marlene. - Mas infelizmente, um homem que estava observando aquilo tudo, sem tomar providência alguma, me viu e correu até onde eu estava.
- Sim, mas ele correu até a senhora e te falou ou fez alguma coisa? - Perguntou o polícial.
- Ele não fez nada. Mas começou a  me perguntar um monte de coisas. - Respondeu.
- Mas então, o que ele lhe perguntou?
- Ele perguntou o que eu estava fazendo ali e o que eu tinha visto. - Disse a mulher, que estava começando a ficar inquieta na cadeira em que estava sentada. - Eu disse que não tinha visto nada.
- E qual foi a reação dele logo após o que você disse? - Perguntou o policial, agora tomando um copo de café requentado.
- Ele disse que faria o que quisesse para que eu não contasse a ninguém o que tinha visto. Como eu sempre fui muito pobre e precisava de alguma coisa que me ajudasse a criar meus filhos. - Marlene começou a chorar. - Ele perguntou o meu endereço e disse que em breve me procuraria com uma boa recompença. Muito inocente, eu fiquei esperando por vários dias, semanas e meses e ele nunca apareceu. A ansiedade foi me consumindo de tal forma que não saia de casa para procurar emprego com medo dele aparecer e eu não estar em casa. - Quase não se entendia o que a mulher dizia, por causa dos soluços. - Eu fui deixando, Seu policial, de cuidar da minha família tamanha era a esperança de que ele aparecesse e por causa disso, meus filhos foram tirados de mim e entregues a outra família.
- Minha senhora, matenha a calma. - Consolou o policial. - Não precisa dizer mais nada. Esse depoimento da senhora já é suficiente para prender esse tal Jacques. Com licença, já volto, vou expedir um mandado de prisão provisória contra ele.
Após a saida do policial, Bartolomeu se virou para Léo e Ícaro.
- Rapazes, os ataques que sofremos, finalmente, serão vingados! - Disse.

Minha poesia

Minha poesia não pertence a mim,
Minha poesia não funciona assim,
Minha poesia tem um fim,
Minha poesia é mais simples que um sim.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Lembranças - 10ª parte

A voz que veio de dentro do casebre era da mulher que procuravam, só que a entonação que ela usou deixou Ícaro, Léo e Bartolomeu um tanto quanto assustados, mas isso não fez com que eles desistissem do que queriam.
- Marlene, nós queremos apenas conversar. - Disse Bartolomeu.
- Eu não tenho nada para conversar com vocês! - Gritou novamente.
Antes que pudesse responder qualquer coisa, os três perceberam que a mulher andava dentro de sua casa. Logo em seguida, a mulher abriu a porta.
- O que vocês querem comigo? - Disse.
- Podemos entrar para conversamos com privacidade? - Perguntou Léo.
- Entrem, mas não demorem.
Léo e os outros, logo que entraram, puderam perceber a miséria em que Marlene vivia. Em sua sala, um sofá velho, praticamente mofado dava lugar a 3 gatos que com certeza estavam com sarna. A miséria e a baixíssima higiene eram de deixar qualquer um espantado.
- Vamos, digam o que vocês querem! - Novamente Marlene gritou.
- Meu nome é Bartolomeu e a alguns anos eu fui atacado por alguns homens e a senhora foi a única testemunha. - Disse. - Na época eu não pude denunciá-los, mas resolvi que assim vou fazer e preciso que a senhora testemunhe, até porque o Léo também foi agredido e não encontrou provas para incriminar o mandante do ataque, que era uma pessoa muito próxima a eles e que confessou o crime.
- Essa história já me deu muita dor de cabeça, me trouxe muitos problemas e eu não quero revivê-los outra vez!
- Mas que tipo de problemas a senhora teve? - Perguntou Ícaro.
- Após presenciar aquele ataque horrível, um homem chamado Jacques me procurou e promete que, em troca do meu silêncio, me daria o que eu quisesse. - Disse. - Eu topei e dei o endereço da minha casa para que ele cumprisse o que prometeu. Eu esperava e ele não aparecia. Como eu tenho 2 filhos, que na época eram pequenos, a espera foi me deixando nervosa porque eu não tinha como alimentar meus filhos. - As lágrimas começavam a correr pelo rosto de Marlene. - Um dia, uma assistente social bateu aqui em casa devido a uma infeliz denuncia de que eu negligenciava meus filhos e os levou de mim.
A história de Marlene estava comovendo a todos que estavam em sua casa.
- O fato de não ter meus filhos mais por perto e a falsa promessa de algo melhor vinda desse Jacques fizeram com que eu enlouquessesse. - Marlene falava e chorava quase que ao mesmo tempo. - Mas tecnicamente eu não enlouqueci, só fiquei muito triste e reclusa. Não saio mais de casa.
- Mas se a senhora não sai mais de casa, como faz para comer? - Perguntou Léo secando uma lágrima que caia em seu rosto.
- Alguma alma caridosa, que não sei quem é, deixa todos os dias, na porta de minha casa, um prato de comida e um copo de água. - Disse. - Infelizmente, eu tenho a fama de louca aqui na rua. Mas o que realmente acontece é que não tenho mais vontade de viver depois que meus filhos me foram tirados.
- Após serem tirados da senhora, o que aconteceu com seus filhos? - Perguntou Bartolomeu.
- Não sei ao certo, a única coisa que sei é que foram adotados por uma família de Curitiba. Nunca mais tive notícias deles.
- Eu lhe prometo que se testemunhar a nosso favor, nós encontraremos seus filhos! - Disse Léo.
- Mais uma promessa em vão? Não, obrigada.
- Não é em vão. O testemunho da senhora vai colocar aquele crápula atrás das grades e encontrar seus filhos será uma forma de retribuir o que a senhora fez por nós. - Disse Ícaro.
- Pelo amor de Deus, rapazes, eu faço o que vocês estão pedindo mas não brinquem com o coração de uma velha senhora. Eu não aguento outra falsa promessa.
- Não a decepcionaremos. - Falou Bartolomeu. - A senhora pode nos acompanhar até a delegacia? - Completou.
- Sim, posso. Vamos de uma vez.
Enquanto aguardavam a senhora pegar uma bolsa velha quase toda furada, Léo pensou que enfim as coisas estavam se encaminhando para um desfecho bom. A justiça, nesse caso, estava começando a ser feita.