quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Lembranças - 4ª parte

Após ser, também, vítima de homofobia, Ícaro começou a pensar em como os rapazes homofóbicos descobriram sobre seu relacionamento com Léo.
- Nós nunca fomos vistos juntos na faculdade. - Disse Léo.
- Eles também não podem ter ido à galeria. - Completou Ícaro.
- Será que algum de nosso amigos mais próximos os conhecem e contou sobre nós dois?- Perguntou Léo.
- Não acredito que fomos traídos por algum amigo. Nenhum deles teriam semelhante atitude. - Afirmou Ícaro.
- Não seria melhor procurarmos um advogado?
- É uma alternativa, mas não creio que a situação vá ficar pior. São apenas adolescentes sem ter o que fazer, Léo.
- Sim, mas são adolescentes como esses que matam e ferem homossexuais como nós.
- Você deve estar certo. Mas antes de procurarmos um advogado devemos ter certeza de que fomos traídos por um de nossos amigos. Mataremos dois coelhos uma só cajadada: os preconceituosos e o traidor, que pode vir a ser o mandante de um possível crime.- Disse Ícaro com um tom de voz bastante intrigado, e preocupado.
Antes de se deitarem, Ícaro e Léo decidiram que iam, no dia seguinte, prestar mais atenção na expressão de seus amigos para ver se descobrem algo. Toda essa situação fortalecia ainda mais o amor que um sentia pelo outro. O sentimento de união e cumplicidade estava mais forte do que nunca, pois sabem que para enfrentar o preconceito e a traição terão que se unir como nunca foram antes.
Ao chegar na galeria Ícaro surpreendeu-se com a presença de Jacques, que não tinha o costume de chegar tão cedo em qualquer lugar que fosse.
- O que foi, colocaram escorpiões na sua cama? - Brincou.
- Pode rir o quanto quiser, meu jovem, mas hoje acordei com uma enorme vontade de trabalhar, botar meus sentimentos para fora. - Disse Jacques como se estivesse interpretando um personagem de Shakespeare.
- Seja como for, Jacques, mas hoje você não tem o que fazer aqui na galeria.
- Como não?! Se o dia da minha exposição está próximo?!
- Sim, claro, mas acontece que só faltam alguns serviços internos e disso cuido eu e minha equipe.
- Como pode um rapaz novo como você ser tão respondão? - Bradou o homem.
- Jacques, você pode ficar aqui na galeria só que não vai ter o que fazer.
- Tudo bem, eu vou embora.
A presença de Jacques na galeria, tão cedo e com os preparativos de sua vernissage quase finalizados, deixou Ícaro um pouco desconfiado.
Na faculdade, Léo ficou atento a qualquer atitude suspeita que um de seus amigos pudesse ter, só que não conseguia imaginar se algum deles falou para os rapazes preconceituosos sobre seu relacionamento com Ícaro.
- Não é possível que algum de meus amigos tenha me traído. Não quero nem pensar que isso tenha realmente acontecido, mas se aconteceu a pessoa vai pagar caro pelo que fez. - Pensou, enquanto seu professor falava muito mas não dizia nada.
No intervalo entre uma aula e outra, Léo contou toda a situação para Júlia que ficou perplexa com o que ouviu.
- Vocês tem que fazer alguma coisa. Esses caras não podem continuar ameaçando você e agora, o Ícaro! - Disse Júlia.
- Ícaro e eu pensamos na possibilidade de algum amigo nosso ter contado a esses vermes sobre o nosso relacionamento e antes de ir a um advogado nos prevenir de possíveis ataques, vamos descobrir que é esse traidor. Ícaro vai ficar de olho nas pessoas que frequentam a galeria e eu fico de olho aqui na faculdade.
- Não acho que isso seja necessário. Continuo achando que você devem apenas ignorá-los.
- Julinha, se a gente deixar isso pra lá, eles podem fazer algo pior.
Mais tarde naquele dia, Léo foi para o estágio e Ícaro foi para a casa. Já era tarde da noite e Léo ainda não chegara em casa, o que preocupava Ícaro. Após algumas tentativas frustradas de ligar para o celular do amado, Ícaro recebeu uma ligação de um número que ele não conhecida. Uma mulher falava no outro lado da linha.
- Boa noite. O senhor é o Ícaro?
- Sim, sou. Quem gostaria?
- Meu nome é Edith e eu estou ligando do Hospital Municipal. Sinto muito mas tenho que lhe dizer que Leonardo deu entrada na Emergência do hospital.
- Como assim?! O que aconteceu com ele? - Disse Ícaro levantando a voz, tamanha era a sua preocupação.
- O homem que o trouxe disse que o viu sendo agredido por um grupo de rapazes, mas não soube dizer qual o motivo da agressão. Gostaríamos de pedir ao senhor que viesse para cá o mais depressa possível.
- Claro que vou! Obrigado!
Ícaro desligou o telefone, em prantos, e saiu correndo para o hospital.

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