segunda-feira, 11 de junho de 2012

Lembranças - 10ª parte

A voz que veio de dentro do casebre era da mulher que procuravam, só que a entonação que ela usou deixou Ícaro, Léo e Bartolomeu um tanto quanto assustados, mas isso não fez com que eles desistissem do que queriam.
- Marlene, nós queremos apenas conversar. - Disse Bartolomeu.
- Eu não tenho nada para conversar com vocês! - Gritou novamente.
Antes que pudesse responder qualquer coisa, os três perceberam que a mulher andava dentro de sua casa. Logo em seguida, a mulher abriu a porta.
- O que vocês querem comigo? - Disse.
- Podemos entrar para conversamos com privacidade? - Perguntou Léo.
- Entrem, mas não demorem.
Léo e os outros, logo que entraram, puderam perceber a miséria em que Marlene vivia. Em sua sala, um sofá velho, praticamente mofado dava lugar a 3 gatos que com certeza estavam com sarna. A miséria e a baixíssima higiene eram de deixar qualquer um espantado.
- Vamos, digam o que vocês querem! - Novamente Marlene gritou.
- Meu nome é Bartolomeu e a alguns anos eu fui atacado por alguns homens e a senhora foi a única testemunha. - Disse. - Na época eu não pude denunciá-los, mas resolvi que assim vou fazer e preciso que a senhora testemunhe, até porque o Léo também foi agredido e não encontrou provas para incriminar o mandante do ataque, que era uma pessoa muito próxima a eles e que confessou o crime.
- Essa história já me deu muita dor de cabeça, me trouxe muitos problemas e eu não quero revivê-los outra vez!
- Mas que tipo de problemas a senhora teve? - Perguntou Ícaro.
- Após presenciar aquele ataque horrível, um homem chamado Jacques me procurou e promete que, em troca do meu silêncio, me daria o que eu quisesse. - Disse. - Eu topei e dei o endereço da minha casa para que ele cumprisse o que prometeu. Eu esperava e ele não aparecia. Como eu tenho 2 filhos, que na época eram pequenos, a espera foi me deixando nervosa porque eu não tinha como alimentar meus filhos. - As lágrimas começavam a correr pelo rosto de Marlene. - Um dia, uma assistente social bateu aqui em casa devido a uma infeliz denuncia de que eu negligenciava meus filhos e os levou de mim.
A história de Marlene estava comovendo a todos que estavam em sua casa.
- O fato de não ter meus filhos mais por perto e a falsa promessa de algo melhor vinda desse Jacques fizeram com que eu enlouquessesse. - Marlene falava e chorava quase que ao mesmo tempo. - Mas tecnicamente eu não enlouqueci, só fiquei muito triste e reclusa. Não saio mais de casa.
- Mas se a senhora não sai mais de casa, como faz para comer? - Perguntou Léo secando uma lágrima que caia em seu rosto.
- Alguma alma caridosa, que não sei quem é, deixa todos os dias, na porta de minha casa, um prato de comida e um copo de água. - Disse. - Infelizmente, eu tenho a fama de louca aqui na rua. Mas o que realmente acontece é que não tenho mais vontade de viver depois que meus filhos me foram tirados.
- Após serem tirados da senhora, o que aconteceu com seus filhos? - Perguntou Bartolomeu.
- Não sei ao certo, a única coisa que sei é que foram adotados por uma família de Curitiba. Nunca mais tive notícias deles.
- Eu lhe prometo que se testemunhar a nosso favor, nós encontraremos seus filhos! - Disse Léo.
- Mais uma promessa em vão? Não, obrigada.
- Não é em vão. O testemunho da senhora vai colocar aquele crápula atrás das grades e encontrar seus filhos será uma forma de retribuir o que a senhora fez por nós. - Disse Ícaro.
- Pelo amor de Deus, rapazes, eu faço o que vocês estão pedindo mas não brinquem com o coração de uma velha senhora. Eu não aguento outra falsa promessa.
- Não a decepcionaremos. - Falou Bartolomeu. - A senhora pode nos acompanhar até a delegacia? - Completou.
- Sim, posso. Vamos de uma vez.
Enquanto aguardavam a senhora pegar uma bolsa velha quase toda furada, Léo pensou que enfim as coisas estavam se encaminhando para um desfecho bom. A justiça, nesse caso, estava começando a ser feita.

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