domingo, 27 de junho de 2010

"O rapaz do cabelo comprido" 12ª parte - FINAL

O momento estava mais clichê do que podia, o céu do fim de tarde estava acinzentado por causa da ameaça de chuva. O clima de tristeza do cemitério era ainda mais forte no velório de Felipe. À esquerda do caixão estavam os pais sendo amparados por outros parentes, à direita estavam alguns de seus inúmeros amigos e do lado de fora da capela estavam aqueles que não conseguiram entrar para dar seu último adeus a Felipe.
Tales estava em casa decidindo se iria ou não velar o amor de sua vida. De volta ao cemitério, os pais de Felipe deram ordem para que o cortejo seguisse até o jazigo da família. Quando o caixão estava a ponto de ser baixado, a mãe de Felipe viu Tales acompanhando o sepultamento de longe e se aproximou dele.


"Você não vai se aproximar?" - perguntou.

"Não sei se quero." - respondeu com os olhos cheio de água.

"Felipe te amava, isso não faz com que você queira dar um última adeus a ele?"
"Minha senhora, eu... também amava o Felipe, mas prefiro guardar... na..na...na lembrança os maravilhosos... momentos em que estivem um na companhia um do... outro. Sei que ele está de acordo com a minha decisão." - disse Tales quase sem conseguir falar de tanto que chorava.

"Eu te entendo, rapaz!" - disse a mãe de Felipe que em seguida voltou ao sepultamento de seu filho.

Tales acendeu um cigarro e ficou chorando com seus pensamentos. Ele sabia que a dor e o choro não trariam Felipe de volta, sabia também que Felipe havia sido apenas o primeiro amor de sua vida. Não tinha certeza se iria querer um novo amor, afinal o rapaz do cabelo comprido, que ele tanto desejara e conseguira se relacionar, marcou sua vida de um jeito que ninguém saberia explicar, nem mesmo o próprio Tales.




Soneto de despedida

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas úmidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez-se a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais do que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
(Vinícius de Moraes)




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